Arquivo | setembro, 2010

“Não fala do que eu deveria ser, pra ser alguém mais feliz”

8 set

Sempre tem um monte de coisas nos bolsos das minhas calças jeans. Nem sei porque uso bolsa, acabo sempre colocando tudo na porcaria dos bolsos do jeans. Daí volta e meia encontro prendedores de cabelo, listas de compra e, principalmente, ingressos de cinema. É diversão garantida, vivo encontrando surpresinhas. Toda vez que eu ficar entediada agora vou começar a revirar os bolsos das calças. rs

Hoje eu reparei que os Ipês amarelos desabrocharam. Sempre tem essa época que os Ipês desabrocham, mas eu nunca sei quando é. E hoje fui pega totalmente de surpresa. Fica tudo perfeito, as flores amarelas são lindas. Quando eu era pequena minha cor favorita era amarelo. Fiquei pensando numa coisa: a natureza é perfeita. Quando é que as flores sabem que tem que desabrochar? Os Ipês sempre sabem quando é a hora certa, todos eles desabrocham na mesma época, todos juntos. E porque comigo não é assim? Eu nunca sei a hora certa de fazer as coisas.

A única coisa que eu queria ter feito hoje era não ter descido do ônibus. Se há uma sensação bem interessante é a de andar num ônibus vazio. Eu acho o máximo. Você senta na janela e observa tudo, o mundo inteiro, só que ninguém te vê porque ninguém repara nos ônibus. E você não precisa se preocupar pra onde é que ele vai, porque sabe que ele sempre vai voltar. Sempre acaba voltando pra de onde veio.

E por falar em voltar, nem tudo volta. O que eu mais quero próximo a mim, é o que eu mais acabo afastando. Andei afastando tudo e todos ultimamente. Setembro costumava me trazer coisas boas. Costumava. Eu não queria que fosse assim sabe, não queria mesmo.

As coisas estão sempre no mesmo lugar: fora de onde deviam estar. Não me pergunte como tinha que ser, eu não sei. O que eu sei é que não tinha que ser assim. Eu não tinha que ser assim. Ás vezes mal me reconheço, me pego falando coisas que não devia, pensando em inutilidades, pareço uma neurótica dando surtos por aí. Estou mergulhada em crises e mais crises sem fim. Daí me olho no espelho e vejo o que não era pra ver. Eu mal me enxergo, só sinto raiva.

Se minha vida é o que eu fiz dela, eu não fiz nada do que eu deveria fazer. Talvez eu nem tenha feito nada, por isso vivo eternamente nesse tédio profundo. Mas eu nem quero fazer nada. Nem sei se eu quero mesmo que as coisas mudem, no fundo eu acho que tenho medo. Medo de tudo mudar e depois ficar pior, porque da última vez que as coisas mudaram foi assim.

Não tenho mais nada a que me apegar. Não importa pra ninguém, tanto faz. Parece até que a minha vida não é mais minha, que meus pensamentos não sou eu quem controla. Acho que perdi a vontade própria. Eu sempre estou por aí perdendo um tanto de coisas. Se é que um dia eu já tive alguma coisa pra perder.

Quem sabe – Los Hermanos